domingo, 10 de março de 2024

DIA 70 - As mariposas giram em torno das lamparinas acesas

Gosto quando os olhares e os sorrisos oriundos de pessoas diferentes compactuam os sentimentos mais profundos numa doce simbiose. Pode ser que decorra dela aquele fragmento de amor delirante que tenta compensar a ausência da paixão, em vão. Paixão é uma potência capaz de afastar as depressões que revelam o tempo e a finitude. Enquanto o rio desliza, as águas levam as águas e uma miríade de seres desconhecidos. Nada de choro. A nascente traz o novo, sempre de novo.

Abraça-se a paixão, abraça-se a arte que tem a função idílica de salvar as pessoas de suas inquietudes. É preciso reconhecer a sua presença, mesmo sem saber o que ela realmente é. O amor também é arte que demanda muito cuidado ao ser inventado continuamente no cheiro da chuva, no filminho à tarde, no café fresquinho, no perfume inebriante, na cerveja gelada, no violão em noite de luar. Amor é arte original e não se limita a juramentos eternos, porque é vida, é dança e harmonia, movimento num eixo sem fim.

A felicidade é uma utopia da qual a gente se aproxima em horas de descuido, como nos lembra Guimarães Rosa. No descuido, é preciso ser lúcido e lúdico para nunca deixar que a luz da razão, que funciona em meia fase, clarifique o que precisa ser clarificado. Quando o pensamento funciona, a emoção perde o seu encantamento.

É preciso respeitar os sinais e controlar os instintos, a fim de se evitar as bugigangas que escorrem pelas escadas, dia e noite. O melhor mesmo é se dedicar à escrita de poemas que nunca serão terminados, pois sempre começam naquele beijo fortuito na esquina central, onde as pessoas experimentam as modificações que só o amor pode provocar.

Hora de tomar um trago e experimentar a loucura de beijar a lona, pra depois, beijar a boca e o seu sabor do mistério. O ambiente sombrio sempre deslinda novos desejos, querendo o bem do outro.

Às vezes, declama-se o poema e a cadeira está vazia. A tristeza traz viços maravilhosos para a escrita e aquela vontade de se afogar na borra das garrafas de vinhos ou de uísque. Extasiar-se. Às vezes, é preciso a liberdade das verdades para continuar a viver o lapso de segundo que dura quase um segundo.

Apego-me à beleza, esse bem precioso, erótico e triste que se revela como um crepúsculo numa manhã de inquietações. É preciso jogar os dados para se experimentar no corpo o que só é possível abraçar com a alma. Quem sabe, conviver com a corrupção da delicadeza da beleza, iluminando-a.

As mariposas giram e abraçam o fogo presente na lamparina.

Caminhamos e vivemos as condições e contradições, amando e morrendo sob o único teto que temos: o céu. Sob ele, cultivamos os girassois que se encontram nos quadros de Van Gogh. Os buquês de girassol são os mais bonitos e brilhantes. Mesmo sendo a existência fabulosa, a fatalidade é soberana. Hora de evitar-se as fugas precipitadas, mesmo quando necessárias.

Que grite pela ruelas o poeta bêbado e solitário, esperando pelo raiar do sol. Abandonar os carros para pegar os trens em suas linhas bem rígidas. Abandonar os trens e planar num ultraleve bem leve em rodopios insanos, torcendo para o amor dar certo. O amor é a consumação da vida e da morte na pequena morte que transforma vidas aprisionadas em nada, sempre urgente e necessário. Há riscos maravilhosos a se correr nas possíveis diversões que ocorrem quando podem ocorrer.

É ruim quando o olhar se perde no longínquo do nada, um mísero esforço de reações para a manutenção da previsibilidade no campo da imprevisibilidade. No fundo, o amor só pode ser entendido como recomeço, jamais como final. Ferir a eternidade é reviver as reticências. No futuro, as indecências…

Olhar para fora de si, tentando achar o que se sente em si. Aprender a beleza nas estações do ano e existir deixando o chato para os chatos. Sem paixões, comoções e a possibilidade de se fazer coisas novas, sempre novas. Quanto ao que vai acontecer a partir de agora, não se pode fazer a mínima ideia.

As mariposas morrem no fogo das lamparinas…

quarta-feira, 6 de março de 2024

DIA 69 - Somos todos "Pobres Criaturas".



Eu assisti ao filme Pobres Criaturas - Poor Things (2023), dirigido por Yorgos Lanthimos, baseado no romance de mesmo nome, escrito por Alasdair Gray. O filme é estrelado por Emma Stone, Willen Dafoe, Mark Ruffalo, Ramy Youssef, entre outros. Na Londres vitoriana, a jovem Victoria pula de uma ponte, suicidando-se e é ressuscitada pelo excêntrico médico Godwin Baxter que fazia cruzamentos excêntricos como pato com cachorro e cachorro com galinha, além de produzir em sua digestão uma bolha. Ele, envolvido pela beleza da jovem, resolve fazer um transplante de cérebro, dando vida à comovente e divertida Bella Baxter, uma espécie de Frankenstein com razão, estética, beleza e arguta inteligência. O cérebro usado para o transplante foi o do bebê que estava sendo gerado no ventre da jovem. A frase do médico que revela o seu envolvimento com a beleza é assim expressa: “o mundo ficaria mais triste sem essa beleza”.

Através do desenvolvimento de Bella, uma jovem com corpo de mulher e cérebro de criança nos anos iniciais, Dr. Baxter contrata o médico assistente Max MacCandles para registrar o desenvolvimento da jovem criança ou da criança jovem. Este o faz, e, mediante as observações e percepções, vai paulatinamente se apaixonando. Ambos, o médico e o seu assistente estimulavam Bella em todas as suas ações e contradições. Nesse ínterim, Max pede a mão de Bella em casamento e ela aceita, todavia o seu rápido desenvolvimento intelectivo a convoca interiormente a conhecer o mundo que se abre a ela mesma. Um exemplo disso revela-se quando ela descobre a masturbação e o prazer sexual.

Para o contrato conjugal, Godwin convida Duncan Wedderburn para celebrá-lo. O excêntrico e rico advogado debochado se apaixona por Bella e propõe a ela o conhecimento do mundo. A jovem, diante da proposta de Wedderburn, resolve aceitar. Manifesta a Godwin o seu desejo, retarda o seu casamento com Max e resolve partir. Embora a insatisfação de Godwin, Bella contra argumenta que se ele não deixá-la partir, “ele vai despertar o ódio nela”. Como havia no médico o compromisso de não reprimi-la, ele cede.

Bella e Wedderburn embarcam em uma grande jornada e vivenciam o sexo em diversas perspectivas. Todavia, Bella é livre e não se deixa ser controlada pelo advogado. Ele, inseguro e insatisfeito com a liberdade da jovem, resolve unilateralmente embarcar em um navio, navegando em águas distantes e aprisionando Bella. No navio, Bella conhece Martha e Harry que favorecem o despertar de sua mente para a Filosofia. Wedderburn fica desconsolado e passa a beber desesperadamente. Ele insulta Bella por diversas vezes, inclusive jogando o livro que ela lia no mar. Em uma parada em Alexandria, a jovem conhece o sofrimento dos pobres e fica completamente consternada, a ponto de pegar o dinheiro de Wedderburn e doar àquelas pessoas por intermédio de dois marinheiros suspeitos.

O casal em sua aventura teve que deixar o navio em Marselha e se destinar a Paris. Sem dinheiro e, portanto, sem possibilidades de se acomodar ou comer, Bella busca um trabalho em um hotel e conhece um bordel administrado por Madame Swiney. Ela passa a sobreviver como uma puta e conhece, através da amiga Toinette, a dimensão sociopolítica do socialismo. Descobre, também, o prazer de transar com uma mulher.

Godwin se descobre em estado terminal e solicita a Max que localize Bella. Ele assim o faz e ela retorna reconciliando-se com o médico que lhe trouxe à vida de novo. Ao mesmo tempo, ela resolve se casar com Max. Entretanto, no dia da cerimônia de casamento, Wedderburn leva Alfie Blessington, marido de Victoria Blessington, o nome anterior de Bella, antes do seu desaparecimento, para interromper a cerimônia. Após as considerações de Blessington, ela abandona Max no altar e resolve ir ao encontro da sua vida passada. Todavia, descobre que o ex-marido é violento e sádico. Ele queria submetê-la a uma mutilação do clitóris, mas foi ela quem provocou a sedação do ex-marido levando o seu corpo para a casa de Godwin, a fim de provocar um transplante de cérebro. Ela coloca no sádico o cérebro de uma cabra.   


Minhas impressões sobre o filme

Eu não sou um crítico de cinema, tampouco um especialista na sétima arte, mas gosto de dar os meus pitacos sobre aquilo que de certa forma mexe com a minha consciência e me desloca das minhas poucas certezas. Ao término do filme, tive um relance intuitivo de que todos somos pobres criaturas. Ofereço, então, algumas impressões bem pessoais.

Fui provocado, inicialmente, pelo suicídio da jovem de pele clara e vestido azul brilhante. O olhar perdido no horizonte e o salto da ponte rumo ao desconhecido revela a agonia decorrente de sua vida pregressa, levando-a a tomar a decisão pela autodestruição. De fato, o suicídio é uma ação, decorrente de elementos multifatoriais, que muito implica na vida de todos os seres humanos, agredindo as percepções e ampliando as discussões sobre o que significa o sentido da vida. Albert Camus foi o primeiro a dizer que o único problema do qual a Filosofia deveria se ocupar é o problema do suicídio.

Após a sua ressurreição, Bella vivencia as suas experiências sem ser reprimida. Ela é fruto da contínua vontade científica pela extensão da vida a despeito de qualquer possibilidade de morte. Trata-se da vontade de se recriar e ressignificar a vida mediante as novas experiências científicas. De alguma maneira, o filme expressa que diante dos caminhos e descaminhos da morte, a vida pode ser recriada mediante novos parâmetros.

Nessa nova vida, Bella vive sem convenções sociais ou estereótipos. Se manifesta livremente numa dimensão que Freud classificaria como puro “Id”. Na ressignificação da vida, é fundamental viver de forma livre e espontânea, essa dimensão tão fundamental para se extirpar todo e qualquer embotamento social ou cristalização da beleza criativa dos seres humanos.

O puro “Id” e a liberdade para conhecer faz com que Bella descubra o prazer sexual em todas as suas possibilidades. Do autoconhecimento até a bissexualidade. Bella representa a mulher que se assume como mulher, contrariando as expectativas sociais de um mundo marcado pelo machismo e pelo patriarcalismo. Ela revoluciona ao ser extremamente pragmática, tendo as suas emoções contidas e, na maioria das vezes, exposta em sua própria nudez.

Todas estas impressões peremptórias revelam, também, o contínuo questionamento que cada um precisa ter quanto aos moralismos presentes na sociedade. A jovem Bella entende o seu papel como mulher e se assume como protagonista da sua própria trajetória. Bella, embora se jogue no prazer sexual, não se restringe a ele. Qualquer tentativa quanto a refreá-la, é rechaçada veementemente. Ela só quer o mundo aberto aos seus anseios e vontades. Tudo precisa ser permitido, mesmo quando passa a viver a vida com uma puta.

Na condição de uma prostituta, ela se abre ao conhecimento político e age continuamente de forma simples, sem emocionalismo. Isso é corroborado com a forma como ela vivencia a sua prostituição e em como rompe com o que está dito socialmente para experimentar o que ainda não foi experimentado. Para ela, em especial, homens de todas as formas, tamanhos e posições sociais, são limitados. Ela, inclusive, faz questão de questioná-los com as suas ações pragmáticas, seja com a desistência relacional ou com a mudança do cérebro de um homem sádico. Permanecem em seu espectro aqueles homens que permitem a ela viver como ela quer. É o caso de Godwin e de Max. Bella dá continuidade ao trabalho de Godwin na companhia de Max e Toinette. O cientista é ressuscitado na mulher que ele ressuscitou. A morte foi ressignificada com a experiência, o conhecimento, a aventura, o sofrimento, a revolução e a liberdade que não pode ser aprisionada.

Mas o filme é uma ode ao amor pela liberdade. Ele se revela diversificadamente nas semióticas, na passagem do preto e branco para o colorido, nas lentes “olho de peixe” e nos distanciamentos e aproximações que consideram as experiências dos protagonistas e coadjuvantes. O amor se manifesta em todos os corpos com as suas cicatrizes de vida e de morte. Quem não as possui? Elas revelam as contradições entre o que é e o que não é socialmente aceito. De fato, paga-se um preço muito muito alto pela possibilidade de se realizar o protagonismo na vida. São inevitáveis as experiências que criam amigos e inimigos.

No fundo, a vida que poderia ser considerada ideal é aquela que cria no microcosmo do quintal de uma casa, as possibilidades de uma vida marcada pela espontaneidade, pela criatividade e pelo amor. Todos temos as nossas cicatrizes. Numa consideração que seguiria a lógica de Bella Baxter, todos nós somos pobres criaturas.


terça-feira, 5 de março de 2024

DIA 68 - Pensando a insignificância de ser num mundo de seres



Sempre penso detidamente no significado da minha existência sobre este pequeno planeta que gira continuamente em um eixo imaginário pelo universo à fora. O multiverso dos meus pensamentos revela a minha total e irrestrita insignificância como ser, como sujeito. Perco-me em meus delírios.

Enquanto divago, imagino as milhares de nebulosas coloridas que se manifestam nos quatro cantos desse universo que nem sei se tem cantos.

Contemplo a abóboda celeste ao mesmo tempo em que pego uma abóbora, daquelas cheias de gomos, salivando e desejando aquele saboroso bobó de camarão. Chego à constatação de que tudo é tão finito e infinito. Quem poderá definir o sabor que reúne o fruto da terra com o pequeno crustáceo de sabor inigualável?

A abóbora acariciada pelas minhas mãos nasce da mesma forma que as estrelas, na explosão das sementes que nunca mentem; da mesma forma que as crianças, depois do desenvolvimento no útero materno, este lugar de magias e alquimias.

Na minha boca, escorre o sabor dos movimentos e das possíveis transformações e possibilidades revolucionárias do que cada ser porta dentro de si.

Na minha boca, escorre o líquido translúcido que sai do filtro e preenche o recipiente de louça cuja impressão é a da imagem do personagem Coringa. O Batman que se cuide. Enquanto bebo a água, sorvo as impressões doloridas da minha alma, aquelas que insistem em visitar as pessoas e suas dores sem fim.

Visita-me a vontade de viver a explosão de uma sexualidade que não esteja diretamente ligada à cópula. A dureza dos dias e das percepções sem coração revela gente sem a mínima decência, capaz de azucrinar a vida do outro só pelo sabor e pelo prazer de azucrinar. Não dou conta dessa estirpe de gente. O cotidiano requer mais sensibilidades e acolhimentos sem cobranças. Num mundo de gente madura, cada um cuida do seu b.o.

A fragilidade dos barquinhos de papel revelam a nossa própria fragilidade. Assumí-la, enquanto há tempo, demanda urgência num tempo que parece ser lento, mas voa como um aviãozinho de papel. O relógio assim o condena. Nem o dragão de Komodo escapa do tempo. Criatura fabulosa que também nasce, também morre.

E há quem ainda insista em buscar um sentido para a vida, mas sentido não há. Talvez aquele, marcado pelo talvez das dúvidas que habitam a consciência e suas possibilidades expressas num mundo caotizado pelos humanos e suas parafernálias.

Eu, quando durmo, em nada mais penso, pois vivencio o estágio da morte. Tudo o que me é caro e importante se perde, inclusive eu mesmo me perco num mundo escuro, amparado pelo onírico que insiste em me visitar. Hora em que não penso em ninguém, e é bom que seja assim.

Tem momentos em que o cansaço bate firme e forte, principalmente na cabeça. Píncaros de um sino de igreja medieval confrontam o que necessita sossegar.

Talvez eu deseje voar para o alto daquela torre para silenciar o sino ou subir o monte que nunca consegui escalar, pela simples vontade de contemplar as linhas de um horizonte quase perdido. Isolar-me como um Zaratrusta e pensar o que me é possível. A aura nunca será a de um anjo. Serpente é águia me acompanham.

Em meio ao meu devaneio silencioso e solitário, evoco a quinta sinfonia de Beethoven para me safar dos pensamentos meticulosos que me transformam em um ser estranho, daqueles que abraçam a destruição.

A água ainda perpassa a minha boca e eu acolho nela os peixinhos dourados que eu desenhava quando crescia e me desenvolvia no Jardim de Infância. Sinto-me num aquário cristalino com uma miniatura de farol incandescente fixada ao fundo. Imagino o arquétipo Junguiano dos seres aprisionados em seus mundinhos cavernosos. Sei que muitos não o entendem, mas algozes também reverenciam os santos de outrora, fazendo o sinal da Santa Cruz.

Curiosamente, tudo o que parece desconexo pode ser conectado pelas mentes mais iluminadas dos que amam os reinos animal, vegetal e mineral.

Reverencio os leões marinhos que eu nunca tive oportunidade de ver. Por enquanto, ouço as galinhas se manifestarem junto ao galo da madrugada.

Enfim, faço suspense com os meus cabelos suspensos a fim de aguardar os tempos vindouros. Estico os meus olhos castanhos para olhar um pouco mais além, embora um deles nada enxergue. Insisto em minha teimosia e ativo o veio de gamas e ultravioletas que sempre me banha com seu brilho intenso. Ainda vejo como é pequena a minha existência, mas me envolvo com as possibilidades de ser um pouquinho melhor hoje e, talvez, amanhã…

sexta-feira, 1 de março de 2024

DIA 67 - Repensando os relacionamentos na trilha da amizade



Eu sempre gostei de acolher as pessoas em seus momentos difusos sem estabelecer qualquer tipo de preconceito ou julgamento prévio. Sempre gostei de abordar as questões mais íntimas da alma humana de uma maneira tal que as pessoas pudessem encontrar novas saídas ou possibilidades para as suas formas de existência neste mundo.

Nunca fui de considerar o certo e o errado em meus diálogos ou conversas alhures. Sempre entendi o elemento paradoxal que se encontra presente em cada um de nós, deslindando as nossas próprias contradições e sentimentos conturbados. Incluo-me nisso. De fato, nossa natureza humana é realmente contraditória e cheia de percalços ininteligíveis.

Porque assim faço, especialmente no acolhimento ao humano, muitas vezes sou interpretado equivocadamente pelas pessoas. O pior é quando usam os meus pensamentos e as minhas palavras de forma indevida e sem o meu consentimento. Fazendo assim, salvaguardam os seus e colocam o “meu” na reta para poderem se estabelecer mais tranquilamente com as suas consciências. Todavia, com este tipo de atitude, elas desferem um forte golpe na minha pessoa. Se tem um sentimento que tira de mim todas as minhas potencialidades e energias, ele se refere justamente à forma como relações bem construídas ao longo dos tempos são dispensadas rapidamente por conta de comentários ou posicionamentos bastante estranhos e sem o necessário diálogo. Sinto muito quando as relações não são tratadas de uma forma consistente e amorosa.

Infelizmente, as pessoas criam narrativas ou pensamentos esquisitos em relação ao que realmente sou e o que realmente penso para se salvaguardarem, não sei do quê?Sempre procurei deixar muito claro a quem quer que seja os passos dos meus pés. Sempre deixei aberto aos mais próximos as minhas perdas e desistências para defender a minha honra e a minha dignidade. Não tenho medo de desistir quando sou destratado  ou agredido de alguma maneira. Entretanto, isso desperta em mim um sentimento combativo e até animalesco . Eu sei desprezar as pessoas, mesmo sendo educado e elegante. Eu sei, ao mesmo tempo, ferir usando as palavras agressivamente, como se fossem adagas afiadas e pontiagudas. Tenho medo deste meu lado mais obscuro, contudo ele tem sido despertado paulatinamente por pessoas a quem confiei os meus pensamentos, as minhas ideias e até mesmo a minha intimidade.

Eu que sempre declarei meu caso de amor às pessoas e suas contradições me encontro em reconsiderações sobre tal tônica, especialmente porque não cabem em uma mão as pessoas as quais se pode confiar aquilo de mais precioso que existe em mim, no âmago dos sentimentos do outro que se expõe.

Eu que sempre vi a Psicologia como uma zona afeita a potencializar o ser humano nas suas capacidades vivenciais e os seus pormenores, passei a colocá-la em xeque. Entendo que o objetivo de uma psicoterapia é provocar as pessoas a saírem de suas vidas pacatas, embotadas e emboloradas, para assumirem uma melhor versão de si mesmas. Só que neste afã, as pessoas usam as palavras preferidas em um setting terapêutico - ambiente de extrema confiabilidade - para a sua própria satisfação e salvaguarda. Eu até entendo que é direito de todo mundo buscar o anteparo reflexivo para justificar as suas ações cotidianas, mas usar as palavras da intimidade, a fala profissional, para se justificarem não é de bom tom.  A autonomia e a dignidade de cada um deve ser estruturada em cima da vida assumida por cada qual e não sobre o embasamento de uma fala que só almeja querer o bem do outro

É muito ruim quando se é julgado sem ter direito à defesa ou à contraposição, sem ter direito a falar o que realmente precisa ser dito. É fácil condenar o outro sem lhe dar o direito ao contraditório. O desrespeito deve ser rechaçado e pessoa alguma precisa ser crucificada.

De minha parte, eu nunca me considerei melhor do que ninguém, tampouco superior a qualquer pessoa que eu conheça ou desconheça. Conheço as minhas debilidades e por conhecê-las, passo a respeitar a debilidade do outro, seus sentimentos e dificuldades quaisquer. No fundo, eu gostaria de ser medido com a mesma régua que meço as pessoas, mas é só uma utopia da minha parte. Eu gostaria, também, que a flâmula do respeito, essa dimensão tão vital para o enriquecimento das relações, fosse hasteada no alto de um monte qualquer.

Eu sei que todas as pessoas que possuem uma visão idealista da vida e até mesmo do ser humano desejam fazer coisas que tenham um significado maior. Eu, no auge dos meus 53 anos, abraço continuamente a oportunidade de ler e conhecer os distintos mundos que me cercam a fim de provocar mudanças em prol das potências, nem que seja no quintal de uma humanidade qualquer. Eu leio, estudo e pesquiso todos os dias para poder ter uma compreensão maior das contradições humanas, e descubro que o meu idealismo precisa ser jogado na lata de lixo, pois não serve pra coisa alguma, a não ser pra ser questionado pelas pessoas alheias.

Por enquanto, sigo a minha trilha trocando os meus passos com o intuito de salvaguardar o mínimo que ainda há ou que resiste, fazendo questão de me manter firme, mesmo diante das dificuldades relacionais que me afrontam.

Amanhã é um novo dia e eu vou me dar ao luxo de caminhar com os pés desnudos na areia branca da praia, para banhar-me de sal e de esperança. Vou me organizar em meus devaneios, nem que para isso, me recolha em uma rede bem bordada para conversar com a escuridão do meu silêncio e, assim, abrandar os meus sentimentos em meus novos caminhos.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

DIA 66 - Fazendo coisas novas a cada novo dia



Há algum tempo, eu assumi um desafio pessoal! Fazer em cada dia, algo especial, inusitado, diferente do habitual. Eu percebi, bem rapidamente, aliás, que a vida é bem passageira e que a gente precisa apreciar cada moranguinho que ela nos apresenta.

Num sábado qualquer, resolvi almoçar em um bar bem movimentado. Queria uma comida bem simples e bem temperada. O ambiente estava tumultuado, no fervilhar das manhãs de sábado no centro da cidade de Juiz de Fora. Sentei-me em uma mesa de canto, onde podia acompanhar o ir e vir das pessoas em uma galeria paralela ao bar. Pedi um chope para começar. Chegou-me rapidamente à mesa, com aquele colarinho a ser vencido. Sorvi deleitoso aquela cerveja gelada, sem pensar, pensando em como aquilo era bom.

Um grupo de coroas conversava ao meu lado. Não queria acompanhar a conversa, mas um deles falou: “Não vou ficar tomando mais chifres”!

Meus ouvidos se atentaram ao assunto, mesmo sem eu querer. “Pô! Tem onze anos que eu estou tomando chifre. Cansei”!

“Já te falei isso, carái! Tem que parar com essa merda! Tem que largar essa mulher! Ela já extrapolou! Pô”! Disse um outro coroa, que tinha um colar de metal, bem jovial, e parecia o ator americano Dani De Vitto.

Um outro, usando óculos quadrado de armação preta, sem barba e sem bigode, que ficava o tempo todo conversando, bebendo e comendo pastel, além de fiscalizar as bundas das meninas que desfilavam na galeria, entrou no bar e pegou uma cerveja de baixa qualidade, compartilhando com os seus amigos.

“Carái! Tem outra cerveja não! Essa aí parece mijo de vaca”! Disse o coroa jovial. Mesmo com esta piada mequetrefe, abriu a lata e encheu o copo, sorvendo o primeiro gole como se fosse um vinho francês. O importante naquele momento era a conversaria em torno do sexo na maturidade e não a qualidade da cerva.

Levei um susto. Uma pombinha cinza e manca entrou no estabelecimento, bicando restos de comida que estavam no chão. Uma espécie de utilidade pública. Pedi o cardápio ao dono do bar. Uma figura simpática, oriunda da China. Prontamente, me cedeu o cardápio e eu pedi um prato feito, com pouco arroz. Uma senhora assentou-se proximamente, só para beber água e atualizar as suas redes sociais. Não era casada e parecia querer uma aventura na noite. As sobrancelhas estavam bem feitas e o cabelo bem alisado. Devia ter uns 59 anos. O sapato vermelho revelava para mim que os seus passos precisavam ou queriam subvertê-la. Atentamente, futucava o seu celular.

Os coroas foram embora. Depois de várias goladas, era preciso estimular a coragem do amigo, para romper com aquela sequência de chifres.

Meu almoço chegou! Cheirinho delicioso e um prato contendo arroz, feijão, batatas fritas e salada. Pedi para o acompanhamento um bife acebolado de frango. Era um prato simples, mas estava delicioso.
Saboreei-o e deleitei-me naquele momento. Pedi mais um chope.
Muita gente rindo e falando alto. Uma pequena banda tocava alguns clássicos, chorinho, para ser mais preciso. Eram artistas em suas insanas lutas por reconhecimento através da arte diante do público.

Deu vontade de tomar mais um chope. Balancei a caneca de vidro e sorvi a última gota. Uns pastéis crocantes me convidavam a um novo prazer. Um chope com pastel. Resisti àquela transa.
Precisava pagar a conta e ir para o curso de Psicodrama. O dever me chamava, e eu já estava leve.

Outras coisas novas precisavam acontecer.

Paguei a conta.

A pombinha não voltou mais.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

DIA 65 - Uma manifestação contra os fechamentos obtusos da vida aberta

 


Tenho um problema sério com os recintos fechados e com os fechamentos obtusos. Afeito que sou ao espaço amplo que se abre para os sóis das manhãs e das tardes, apego-me ao que pode me fazer respirar os 20% de oxigênio que eu preciso para a continuidade do meu metabolismo. Fosse mineiro, gostaria de morar naqueles casebres de janelas abertas e frágeis portas cheias de frestas. Todavia, sou carioca, e talvez, por um acidente deste meu percurso existencial, tenha me acostumado a gerenciar a minha infância e a minha adolescência junto às belíssimas praias de tons azuis esverdeados do litoral brasileiro.

Tenho, também, um problema sério com as pessoas fechadas e de mente embotada. Não consigo gastar tempo com gente que não consegue ver a vida como ela é, ou seja, com suas contradições e dicotomias. Ora, a vida real é marcada pelas possibilidades aventadas por Eros ou por Tânatos, pulsos de vida e pulsos de morte. Não há como fugir-se dos paradoxos que esbofeteiam o ser humano em sua lida diária. Os eventos que ocorrem na dinâmica existencial não podem ser amparados pelas palmas das mãos, sequer pela mente. Algumas escolhas podem controlar o rumo da prosa de cada qual, mas o fato é que todo ser humano é tomado de assalto quanto ao acaso que abraça e zela por todo o universo. Talvez, por este motivo, Einstein tenha dito de forma enfática que o único Deus que ele aceitava era o sinalizado por Espinosa. E qual era o Deus do filósofo holandês? Um Deus despersonalizado e geométrico, estabelecendo-se numa simbiose perfeita com a natureza: Deus e Natureza, a mesma coisa. Como Espinosa indica: “Tenho uma concepção de Deus e da natureza totalmente diferente da que costumam ter os cristãos mais recentes, pois afirmo que Deus é a causa imanente, e não externa, de todas as coisas. Eu digo: Tudo está em Deus; tudo vive e se movimenta em Deus”.

Independente do posicionamento de Einstein ou Espinosa, é inegável a energia que movimenta o mundo e seus engendramentos. Sei que muitas pessoas apegadas à segurança de suas palavras e atos, preferem agendar o cotidiano com a (i)lógica do destino, como se tudo o que acontecesse na dinâmica existencial estivesse pré-determinado por um poder do além. Ora, se o futuro ainda não aconteceu, como haver um destino? De minha parte, prefiro conceber a ideia de que a vida é uma grande e inédita aventura e que cada um é protagonista do seu existir, quando possível. O cotidiano e sua simplicidade é o campo fantástico onde se pode viver a aventura da vida, seus encontros e desencontros, suas pessoas ou situações.

A questão de fundo que se evidencia em um segundo plano, refere-se à fuga do sofrimento que surge por conta do inusitado. Tem gente que acha que, mediante fechamentos obtusos e controles do cotidiano, se pode evitar o sofrimento. Ledo engano. Sofrimento não se evita com fechamentos. Aliás, sofrimento não se evita. Sofrimento ocorre e exige renovações e recomeços, tanto nos níveis subjetivo ou objetivo, pessoal ou comunitário. Ele está presente na dinâmica existencial porque nunca se sabe bem o que vai acontecer na aventura da vida, e está tudo bem. Em tempos passados, escrevi uma crônica que considera a vida nas dinâmicas da montanha russa e do carrossel. Corroboro sempre que a vida é bem mais uma montanha russa, com seus anseios, medos, sustos, contentamentos e alegrias. Tudo isso junto e misturado num contexto cheio de sonhos e pesadelos. Às vezes, muito mais pesadelos. A gente só não pode se perder o foco de que no meio do abismo, como diria Rubem Alves, a gente tem que curtir o que dá pra curtir e saborear aquele moranguinho na beira do abismo. Vejo isso na cultura nordestina brasileira, que tanto amo. Acontece que há um legado sertanejo que transforma grandes infortúnios em esperança. No fundo, manifesta-se ali uma religião cultural ou uma cultura religiosa que se espraia numa vontade de superação artesanal e musical que, ao mesmo tempo, sente o sofrimento inerente à vida e manifesta a vontade de revogação da situação com o grito: “Deus é mais”!

Hoje, especialmente, meu corpo requer um mergulho na profundidade do mar, entre ondas e vagas, para se perder no universo azul esverdeado. Perdido no interior das águas salinas, lanço-me ao absoluto sem parâmetros, sem fechamentos obtusos, afirmando, ainda, o quanto é insensato querer controlar a vida que não pode ser controlada. Diante dos paradoxos que continuam a me esbofetear, respeito a intuição do momento e abraço o acaso se ele quiser me abraçar. Assim vivo, pois as tramas da vida sempre precisam ser vivenciadas com ampla ousadia.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

DIA 64 - Da natureza da coragem



Uma amiga a quem muito prezo mandou-me um recado tecendo considerações sobre um livro de crônicas que tive a oportunidade de publicar há alguns anos. Este recado carinhoso gerou-me sentimentos múltiplos e a vontade de dialogar com as suas percepções. Basicamente, ela me falou a respeito de coragem e de liberdade. Ela sentiu, no contexto das emanações de minha alma subversiva que eu estava tecendo críticas em relação às injustiças que tentavam amordaçar a vida humana, favorecendo a ampliação do espaço destinado às estruturas de poder, e que isso era muito corajoso da minha parte.

Eu preciso confessar que eu não sou corajoso. Aliás, minha vida é marcada pelo medo, pela ansiedade e pela angústia. Coragem substantiva não me define. Coragem substantiva não existe em minhas palavras, em minhas ações, tampouco em meu velho e carcomido dicionário de bolso – coisa antiga. Por uma causa que não sei mensurar, a coragem que eu não tenho surge em minha vida como uma erupção vulcânica em dados e espasmódicos momentos cotidianos. De repente, me vejo completamente tomado de uma ira sem precedentes e passo, então, a falar, agir e escrever coisas que não havia pensado ou medido. Assim, compreendi que pessoa alguma é corajosa fortuitamente, mas se enche de coragem ante a uma situação inusitada que lhe fere a alma ou a vida.

Ao mesmo tempo, passei a pensar no intrigante livro A Coragem de Ser, escrito pelo filósofo e teólogo Paul Tillich. Neste livro, o autor reúne os conceitos ético e ontológico alusivos à coragem e à angústia, afirmando que “a coragem de ser é o ato ético no qual o homem afirma seu próprio ser a despeito daqueles elementos de sua existência que entram em conflito com a sua autoafirmação essencial”. Nessa perspectiva, a coragem é uma atitude e uma potência do ser-em-si que recebe a si-próprio de volta, num processo de contínua autoafirmação frente ao não-ser. Não é fácil encarar os desafios mais diversos que se apresentam no campo da existência e, ainda assim, buscar a autoafirmação. Embora haja muitos medos envolvidos, como, por exemplo, o medo da perda, o medo da frustração, o medo da rejeição, o medo da morte, entre outros, dando a ideia de que coragem se relacione ao poder da mente para vencer o medo, para Tillich a coragem existe para refrear a ansiedade e angústia. Em suas palavras: “Coragem é usualmente descrita como o poder da mente para vencer o medo. O significado do medo pareceu por demais óbvio para merecer inquérito. Porém, nas últimas décadas, a psicologia profunda em cooperação com a filosofia existencialista, tem conduzido a uma decisiva distinção entre medo e ansiedade e a definições mais precisas de cada um destes conceitos”. A coragem aparece como uma postura e uma atitude concreta no aqui e no agora, obscurecendo o medo e seu objeto conhecido, e a ansiedade, quanto ao não-ser e a sua finitude, evidenciando as emoções e atitudes necessárias para o enfrentamento dos diversos monstros, inclusive os imaginários.

Em todos os dias, pessoas as mais diversas lutam continuamente com os seus medos, suas ansiedades e suas angústias, especialmente quanto à finitude. A convocação que cada ser se impõe, especialmente quanto a buscar posturas corajosas de autoafirmação frente às contínuas lutas cotidianas, é o que favorece a manifestação da coragem de ser. É justamente no momento em que a adrenalina inunda a corrente sanguínea que o autocontrole precisa se manifestar. Quando a emoção toma o lugar da consciência, os batimentos cardíacos e a pressão arterial precisam ser controlados mediante a respiração pausada e contínua. Um copo com água ajuda bastante. Em momentos de perigo iminente, a coragem brota em meio ao medo, à ansiedade e a angústia. Somente se manifesta com coragem quem tem medo, ansiedade e angústia. Somente tem coragem quem enfrenta o medo de arriscar. É nessa dialética contínua, entre medo e coragem, angústia e autoafirmação, que cada pessoa descobre, paulatinamente, as possibilidades de se buscar na dimensão do amor as possibilidades de afastamento do medo, da ansiedade e da angústia.

Como um gêiser que se manifesta do interior da terra, fazendo espargir o seu fluxo cheio de pressão, a coragem deve se manifestar num processo de autoafirmação à despeito das situações aflitivas e afrontosas que se manifestarem no cotidiano existencial. Quando o corpo for confrontado pelo infortúnio, a teimosia para se pensar diferente se torna uma condição amplamente necessária. Essa teimosia é a manifestação da coragem para se tomar a decisão certa nas situações limites que são experimentadas por cada ser.

À minha amiga, eu respondo: não sei se tenho coragem, mas a expresso continuamente, mesmo diante dos meus medos, minhas ansiedades e minhas angústias.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

DIA 63 - Conscientização, vida nova e os perigos do processo psicoterápico

 



O cotidiano e os seus consequentes eventos singulares são constantemente interpretados pelos seres humanos da forma como cada qual os interpreta. Em geral, a pessoa interpreta os seus acontecimentos mais pessoais a partir dos seus sentidos e das suas percepções. O que se revela no mundo não é captado da mesma maneira por todas as pessoas. Cada qual constrói a sua narrativa de forma a se sentir em segurança com ela.

No processo psicoterápico, as nuances perceptivas se entrechocam o tempo todo entre o psicoterapeuta e seu cliente, tocando singelamente os limites das dimensões da espontaneidade e da criatividade. Os entrechoques e toques visam um novo viver marcado pelo bem-estar de melhor ser, na dimensão do que Fritz Pearls batizou de awaraness – uma dimensão especial de contentamento com as possibilidades de viver melhor, uma consciência de si perceptiva; a tomada de consciência global no momento presente, a atenção ao conjunto da percepção pessoal, corporal e emocional, interior e ambiental. Obviamente, nestes intercruzamentos perceptivos, verdades absolutas e discussões sobre o certo e o errado não cabem. E todos os debates, conversas e revelações ocorrem na zona nebulosa dos sensos ativos em processo, no campo do segredo das palavras e dos sentimentos, na escuridão profunda das cavernas mais obscuras, frias e silenciosas. Nelas, às vezes, uma pequena fogueira é acesa para favorecer os sentidos e, ainda, se perceber vivo.

Por entender os interstícios da psiquê humana, o respeitado psicanalista Contardo Calligaris usou de uma metáfora para falar do trabalho do psicólogo ou psicanalista como o trabalho de uma puta. Confesso já ter meditado múltiplas vezes sobre esta metáfora e cheguei à conclusão que o psicanalista estava certo. Com essa metáfora, eu que já respeitava as putas, passei a respeita-las ainda mais. De fato, psicólogos, psicanalistas e putas acolhem pessoas em suas mais desditosas intimidades, na nudez expressa sem constrangimentos, sem estabelecerem juízos preconceituosos ou julgamentos indevidos. Nas situações de acolhimento há vazios e interpenetrações, vergonha e exposição, alívio e angústia, recuos e avanços, transferências e contratransferências, tanto positivas quanto negativas. Não se pode perder de vistas a ideia de que o risco em se estar exposto em uma zona paradisíaca onde tudo é permitido, sem repressões ou reprimendas, o ser em situação se permite experimentar o doce sabor da liberdade e do amor, quem sabe para conseguir ser quem se pretende ser, o que é extremamente legítimo. Todavia, para os que não conhecem ou não experimentaram o processo psicoterápico, deparar-se com alguém em estado de graça ou disposto a virar o mundo de ponta cabeça é assustador.

Na sabedoria milenar, há uma narrativa sobre um homem que vivia nos escombros e cemitérios, assombrando e assustando os concidadãos. Um dia, o mestre da Galileia atravessou todo um lago só pra encontrar este homem. Num processo que não podemos avaliar, aquele homem se refez e se organizou. A cidadela, ao invés de ser favorável ao homem e celebrar a sua conquista pessoal, o que lhe deu mais dignidade de vida, se manifestou contrária ao processo libertador e perseguiu a quem provocou a metamorfose. É curioso como as pessoas no entorno de alguém que se liberta das amarras aprisionantes rechaçam de forma perniciosa e, muitas vezes, grotesca, o liberto. Para muitos, a lagarta precisa continuar a ser lagarta por toda a vida. Se ousar se transformar em borboleta, precisa ter as asas cortadas, pois as pessoas encarceradas em suas verdades sem amor não suportam quando um sorriso se esboça como genuíno sorriso e não como maquiagem embotada.

Na condição de um psicoterapeuta, eu vivencio semanalmente as glórias e as agruras decorrentes de minha ação e palavras. Sempre provoco os meus clientes a saírem de suas vidas letárgicas a fim de abraçarem as novas possibilidades que se abrem em um novo dia. Sempre há um arco-íris colorindo o céu quando raios de sol rompem a tempestade que banhou a terra, as árvores e as pedras que choram sozinhas. Em minhas provocações, incito cada um a sair de suas ideias congeladas ou cristalizadas para oportunizarem uma outra experiência em si mesmas.

Outro dia, perguntaram-me se o que eu faço é perigoso? Eu respondi prontamente que sim. Aliás, é muito perigoso, uma espécie de aventura constante que singra o mar das emoções extenuando-se em encontros e desencontros, alegrias e choros, conquistas e perdas. Às vezes, pergunto-me se toda e qualquer provocação vale à pena. Não tenho uma resposta pronta e acabada. Acho se tratar de uma pergunta complexa. Quando sou questionado em minha prática e ação, recolho-me silenciosamente, pois somente o tempo poderá me defender. Sem pontuar as razões que me levaram a esta ou aquela ação psicodramática, espero o plausível tempo onde a minha historicidade e a minha ética será salvaguardada, nem que seja na brisa suave que roçará o meu rosto.

Enfim, não importa como as pessoas interpretam os fatos. Importa, sim, como eu me entendo enquanto eu-mesmo. Por enquanto, eu somente espero que haja o mínimo de respeito e, assim como eu me recolho em mim, que outros também o façam, afinal de contas, a “putaria” sempre estará em ordem se visa o awareness.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

DIA 62 - Será que precisamos saber qual é o sentido da vida?

 


Qual é o sentido da vida? Será que existe algum sentido para a existência de cada um de nós?

O psicanalista Contardo Calligaris apresentou em uma de suas conferências uma resolução interessante e significativa sobre o que de fato vem a ser o sentido da vida. Para ele, em especial, o sentido da vida possui uma característica mais singularizada e refere-se justamente á própria “vida que cada um de nós leva”. Nesta perspectiva, o sentido não está no ponto partida ou no ponto de chegada, mas em todas as circunstâncias que emolduram o cotidiano de cada pessoa em sua subjetividade. Eu, particularmente, gosto muito da premissa de Calligaris, especialmente porque ela me aponta a ideia de que cada um de nós pode: criar, recriar, achar ou desenvolver o próprio sentido da vida na vida em cada um leva.

Quando penso e reflito sobre a vida e as percepções que ocorrem em meus sentidos, buscando compreender os aspectos biopsicossociais e, mesmo, a existência que eu tenho, minha mente viaja e imagina as estruturas que geraram a vida neste planeta. Segundo Marcelo Domingos Leal – Coordenador da área de ciências naturais do Parque de Ciências Newton Freire –, uma pesquisa mais específica, lançada em fevereiro de 2014, realizada pela Universidade Estadual Paulista – UNESP em colaboração com colegas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR) e do Instituto de Astrobiologia da agência espacial norte-americana – NASA, trouxe dados mais efetivos sobre a origem da água e da vida no planeta. Além dos cometas batizados como planetessimais ou protoplanetas, a pesquisa indicou que “parte deste recurso pode ter vindo de outros objetos planetesimais (que deram origem aos planetas), como asteróides carbonáceos – o tipo mais abundante de asteróides no Sistema Solar –, por meio da interação com planetas e embriões planetários durante a formação do Sistema Solar. A hipótese foi confirmada nos últimos anos por observações de asteróides feitas a partir da Terra e de meteoritos (pedaços de asteróides) que entraram na atmosfera terrestre. Outras possíveis fontes de água da Terra, também propostas nos últimos anos, são grãos de silicato (poeira) da nebulosa solar (nuvem de gás e poeira do cosmos relacionada diretamente com a origem do Sistema Solar), que encapsularam moléculas de água durante o estágio inicial de formação do Sistema Solar”.

É curioso pensar como os entrechoques destes pequenos asteroides e cometas provocaram uma modificação no todo e a possibilidade de existência neste planeta com o surgimento de toda uma exuberância que se exibe diante dos sentidos. Foi nos encontros e nos desencontros dos quatro elementos: água, terra, ar e fogo, que o mundo conhecido por nós hoje se formou.

De alguma maneira, os nossos sentidos captam as possibilidades destes encontros e desencontros, pois eles ainda ocorrem profusamente em pequenos e múltiplos eventos naturais, inclusive em nossa própria corporeidade. Muitas das nossas potências residem no corpo e favorecem a dinamização do ser em movimentos efêmeros e nada substanciais. Como diria Heráclito: “A vida é uma faísca no meio de um incêndio”.  Em outras palavras, precisamos considerar a insignificância que é ser neste mundo. Apesar de nada sermos, existimos e resistimos numa constante luta biológica para nos entendermos em nossas demandas mais cruciais. E nesse constante conflito, cada um de nós possui um fragmento. Como se um grande espelho se estilhaçasse e cada pessoa angariasse para si um pequeno caco. Nossa imagem refletida no fragmento é imperfeita, mas, se conjugada a outros fragmentos, pode ganhar novo sentido.

Muitas vezes, na clínica psicoterápica, sou convidado a responder aos meus clientes sobre se, de fato, existe um sentido na vida. Eu até entendo a curiosidade, mas respondo categoricamente que não sei. Fico com o posicionamento de Calligaris e afirmo sempre que o que vale à pena, mesmo, são os afetos e os encantos que nos cercam, favorecendo a nossa identificação como pessoa mais efetiva e integrada com o bem-estar. Aliás, para mim, viver em sintonia e em harmonia com o cosmos e com a natureza, sem orgulho ou avareza, sem se considerar superior a qualquer coisa, é muito especial, pois somos partes constituídas de um todo muito maior do que cada um de nós. Há enzimas e substâncias em nós presentes em todos os demais seres vivos coexistentes na natureza. Há simbioses lindas entre os reinos animal, vegetal e mineral e os seres humanos fazem parte disso.

Em meu trajeto diário para o município de Coronel Pacheco – MG, eu me deparo com a exuberância de uma natureza linda. Há, por exemplo, uma árvore maravilhosa cuja formação se desponta à margem da estrada. Ela recebeu o nome de “Árvore da Babá”. Reza a lenda que uma antiga babá levava as crianças que ela cuidava para brincarem naquele espaço e no entorno da árvore, daí o nome, mas eu confesso que ela me remete sempre a um Baobá – uma árvore nativa do continente africano que possui grande importância para os povos africanos, sendo considerado símbolo de fertilidade, fartura e cura. Contemplo a árvore e silencio a minha alma, trazendo á memória toda a minha ancestralidade. Lembro-me, ao mesmo tempo, das singularidades poderosas e subversivas deste mundo, como as flores que desabrocham nos canteiros e as Marias-sem-vergonha que nascem nas brechas das calçadas, rompendo os concretos para beijarem o sol. Talvez, o sentido da vida esteja justamente ligado ao entendimento de que participamos de uma simbiose amorosa que convoca todos os seres a uma troca relacional e a subversões diversas. Sob esta significativa consciência, talvez nós tenhamos a possibilidade de não nos sentirmos aquém ou além de qualquer ser, mas em completude com o que nos cerceia, seguindo o fluxo da vida, como faíscas no meio de um incêndio, sendo pessoas mais legais, sem nos gastarmos em muitas firulas filosóficas e nos abastando da ideia de que pertencemos a um todo muito maior do que nós imaginamos.

Sobre o sentido da vida? Ah! Deixa pra lá! O que vale é curtir o que se nos apresenta no aqui e no agora, nessa eterna simbiose do todo com as partes e das partes com o todo...

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

DIA 61 - Sobre o amor, a ponte e as cinzas

 


Eu tenho um apreço muito grande pelo filme: As Pontes de Madison (1995), dirigido por Clint Eastwood e estrelado por este e pela atriz Meryl Streep. O drama romântico gira em torno da mãe e dona de casa Francesca Johnson, casada há anos com seu esposo Richard.

Como o marido e os filhos viajam para uma competição de novilhos, ela fica sozinha em sua casa por quatro dias. Neste período, aparece no condado de Madison o fotógrafo da revista National Geographic, Robert Kincaid. Ele tem por função fotografar as famosas pontes cobertas da região e, por um acaso, pede informações justamente a Francesca. Já no primeiro encontro, a recatada dona de casa se sente entusiasmada com Robert. Um novo interesse foi despertado nela, o que se comprova em sua disponibilidade para levá-lo ao local a ser fotografado.

Após finalizar os closes, Robert leva Francesca de volta para a sua casa e é convidado a entrar para tomar um chá, o que desemboca em um momento de extrema afetuosidade e amistosa conversa. Ela, sempre atenta ao cuidado com os filhos e ao marido esquecera-se de si, e somente no momento de solitude vivenciado nos quatro dias, diante de um desconhecido, se percebe novamente viva para a paixão e o amor.

Todo este enredo é emoldurado pela descoberta das cartas e anotações de Francesca guardadas em um baú. O casal de filhos, já adultos, descobre os segredos de Francesca já falecida e, num misto de decepção, conservadorismo, apreço e sentimentos afetuosos, acolhe a narrativa segregada pela mãe.

O filme é carregado de uma riqueza de detalhes. Sua fotografia é bucólica, delicada e capaz de envolver a todos os que o assistem em um clima de romance singelo e profundo. O amor acontece sem nenhum tipo de preparação, de forma espontânea, mediante diversos cuidados que fogem o habitual e o cotidiano. Ele ocorre tal como a semente que brota no meio do mato ou o como um pássaro que nasce em um ninho sem que ninguém tenha o anunciado. Agrada-me e encanta-me esse tipo de perspectiva espontânea, pois ela decorre dos desejos, muitas vezes cristalizados ou congelados, presentes no mais humano que há em cada um nós, e que se quebram ou descongelam. Os que ainda insistem em acreditar no amor descobrem que na singeleza dos pequenos atos e gestos, reside uma fonte de vitalidade que acaba por exaltar o prazer inerente à humanidade. Somos seres desejantes e temos uma necessidade muito grande de vivenciar aquilo que é o prazer na vida. Ora, o prazer nos faz deleitar, nos encanta e nos aproxima de tudo aquilo que essencial para dinâmica da vida. Eu também tenho um apreço muito grande por aquilo que traz prazer e encanta o ser em sua maior probabilidade de vida.

Pensar a dinâmica dos afetos, do prazer o do amor se torna fundamental, embora o filme traga um conflito mais profundo: deixar-se ser levada pela paixão e pelo desconhecido ou permanecer na vida cotidiana por amor à família? O conflito é ilustrado pela seguinte cena: Francesca está no veículo ao lado do marido Richard, enquanto o fotógrafo que lhe provocou a renovação da alegria, do prazer e dos desejos se encontra no cruzamento em frente ao semáforo. Ela, ofegante, transtornada em sua dúvida, coloca a mão na maçaneta, mas não age. Ele, em sua caminhonete, coloca a corrente que ganhou dela no espelho retrovisor interno e espera pela decisão dela. Ela morde os lábios e cogita sobre sair do carro, modificando por completo a sua vida. Ele respeita a singularidade do momento dela, deixando que ela tome a decisão de forma livre. Tais conflitos nos levam a pensar sobre as possibilidades dos amores que podem acontecer e dos que não podem. Em ambos, se manifesta a mesma grandiosidade, marcada pela vontade, pelo prazer, pelo desejo e pelo afeto.

Nem todos os amores são possíveis. Os apaixonamentos ocorrem sem previsão, mas a cadência deles no cotidiano é outra história. Há muitos códigos sociais e morais que envolvem as pessoas em suas vidas comuns e cotidianas. A decisão sobre ir ou permanecer é complexa e depende do momento e das emoções envolvidas. A decisão se complexifica quando a questão de fundo envolve a dinâmica do amor em seus fragmentos. Há momentos em que só cabem as possibilidades de se deixar como está. Há amores impossíveis, infelizmente.

Ao escolher pela permanência, Francesca abre mão do possível amor de sua vida, eternizando o amor em sua memória como um instante de eternidade. Na carta lida pelos filhos, ela pede que as suas cinzas sejam jogadas na ponte fotografada por Robert, onde já se encontram as cinzas dele. Eles, já convencidos pela grandiosidade do amor que envolveu a mãe e o fotógrafo resolvem atender ao pedido da mãe. O amor, enfim, se concretiza nas cinzas.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

DIA 60 - Cuidando da Saúde Mental - Janeiro Branco

 


Recentemente um cliente que eu muito prezo perguntou-me em uma das nossas sessões psicoterápicas: “Moisés, porventura você tem algum problema na vida”? Respeitosamente, soltei uma gostosa gargalhada e respondi que não, pois eu, na verdade era um extraterrestre ou um astronauta de mármore fixado no planeta Saturno, e, portanto, sem problemas existenciais.

Em que pese o tom jocoso da minha brincadeirinha, sequencialmente eu deixei claro ao meu cliente que, como qualquer pessoa no mundo, eu também tenho os meus problemas pessoais e comunitários.  Não é pelo fato de ser um psicólogo e versar sobre algumas nuances da mente humana e a consequente busca pelo bem estar que eu não esteja sujeito a situações complexas e problemas diversos, passíveis de atingir, diametralmente, a minha saúde mental.

Enquanto eu pensava sobre os altos e baixos que me acometem a vida, presentes em toda a dinâmica da vida humana, eu revisitei os alguns baixos que eu vivenciei na primeira semana de 2024. Pela minha habilidade socioemocional, eu acabei por vencer as situações diversas que mexeram com a dinâmica do meu cotidiano, entretanto eu queria que aqueles problemas passassem o mais rápido possível. Como toda e qualquer pessoa, queria um “remedinho” para dormir.

Eu sei que quando nós vivemos situações adversas, tendemos a buscar soluções rápidas e facilitadas. Das soluções mais buscadas pelas pessoas na atualidade, uma se refere à utilização dos psicofármacos disponíveis nas redes farmacêuticas. É interessante notar como que no decorrer destes últimos anos o número de farmácias e drogarias aumentou consideravelmente nos grandes centros, alarmando os diversos grupos sociais. A busca considerável de remédios em todos os níveis e em todos os graus revela que alguma coisa não está bem na sociedade. Acresce-se a isso o fato de que ninguém quer sofrer. Sentir a angústia ou ansiedade, embora amplamente naturais na experiência existencial, não é fácil para pessoa alguma, mas é uma realidade.

Eu entendo que todos nós precisamos acolher bem as nossas angústias e as nossas ansiedades. A melhor forma de encontrarmos saídas para os problemas que muitas vezes agravam a nossa saúde mental se dá por intermédio de um diálogo consigo, uma boa conversa com o “self”. Eu sinto que precisamos investir mais e mais no desenvolvimento de algumas novas – não tão novas – atitudes para a boa resolução de nossas demandas emocionais. Além do investimento na clínica psicoterápica, é essencial que cada um de nós desenvolva três nobres capacidades fundamentais: 1. A capacidade de se desenvolver ludicamente, se divertindo mais, mesmo com as tensões inerentes; 2. A capacidade de ressignificar os sentidos para ampliar a postura contemplativa; 3. A capacidade de harmonizar afetos amorosos, dignos de posicionamentos mais maduros e menos centrados em si-mesmo. Aliás, sobre esta última capacidade, é fundamental pensar que a maturidade nos livra dos pensamentos desconexos que insistem em visitar a nossa mente, fazendo com que monstros e fantasmas nos visitem. Todavia, se eles chegarem, torna-se vital aprender a acolhê-los. Não são necessários os receios. O que nos assombra ou assusta não precisa ser repelido, ao contrário, acolhido.

Neste mês de janeiro, por iniciativa do Instituto Janeiro Branco, ocorre uma série de atividades em diversas partes do mundo visando o estabelecimento de uma cultura de Saúde Mental que abarque toda a humanidade. Ora, sabemos de antemão que ao mesmo tempo em que possuímos a nossa subjetividade, vivemos em comunidade, respeitando as instituições. Dessa forma, pensar a saúde mental é pensar a sanidade das emoções e dos sentimentos como um problema público, pois todas as perspectivas biológicas, fisiológicas, afetivas, espirituais e sexuais fazem parte da integralidade humana e, portanto, com amplas ligações à saúde mental.

Enfim, a possibilidade de se discutir a saúde mental em janeiro nos abre a porta para nos atentarmos a todos os pormenores inerentes ao cuidado integral do ser humano pelo ser humano. Acho que mais do que se buscar soluções rápidas para os dilemas emocionais, vale à pena aquela conversa intensa com o eu, a fim de realmente percepcionar se o que é considerado dor, de fato é dor.

DIA 70 - As mariposas giram em torno das lamparinas acesas

Gosto quando os olhares e os sorrisos oriundos de pessoas diferentes compactuam os sentimentos mais profundos numa doce simbiose. Pode ser q...