segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Carta escrita pela educadora Ana Maria Araújo Freire - Em repúdio à matéria publicada na Veja, pelas jornalistas: Monica Weinberg e Camila Pereira



Viúva de Paulo Freire escreve carta de repúdio à revista Veja

Na semana passada, a viúva do educador Paulo Freire, Ana Maria Araújo Freire, escreveu uma carta de repúdio à revista Veja, em decorrência de reportagem publicada na edição de 20 de agosto, intitulada "O que estão ensinando a ele?". De autoria das jornalistas Monica Weinberg e Camila Pereira, a reportagem foi baseada em uma pesquisa sobre a qualidade do ensino no Brasil. Em um determinado trecho da reportagem, lê-se:
"Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado". Diante disso, Ana Maria Araújo Freire escreveu a seguinte carta de repúdio:
"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo deste.
Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoa pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.
A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.
Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.
Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorado com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja os dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!


São Paulo, 11 de setembro de 2008

Ana Maria Araújo Freire

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

AFETANDO E SENDO AFETADO

A vida é relacional, portanto afetuosa.
A cada dia, fico mais convicto de que as micro dimensões dos nossos relacionamentos se dão na complexidade da existência e dos afetos. Aliás, quando se vai à etimologia da palavra complexo, se descobre que “com plexus” é tudo o que se encontra emaranhado, tal como os fios de um tecido.
Ora, ninguém se engane, a vida é realmente complexa. Mesmo sendo presente sagrado, possui ramificações que nos encantam e nos amedrontam. A vida é um todo muito maior do que as partes que a compõem, parafraseando Aristóteles.
Já dizia o grande rabino dos Evangelhos: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Às vezes, para refletir sobre o significado e profundidade dessas palavras que – aliadas a outras histórias, tais como a das duas casas ou a dos dois caminhos – me levam a considerar a vida sobre duas dimensões distintas: o carrossel ou montanha russa.


Àqueles que já tiveram a oportunidade de ir a um parque de diversões sabem muito bem o que vou propor: o carrossel – cavalinhos que giram em uma mesma direção em um sobe e desce mavioso. Uma música meio que irritante ao fundo e pouca, quase nenhuma emoção. Risos pálidos e tédio, muito tédio. As crianças separadas, montadas em seus cavalinhos plásticos. E o giro revela, minuto após minuto, o mesmo cenário, bucólico...



A montanha russa – um trenzinho em que ninguém vai sozinho, mas acompanhado. A subida lenta sugere uma respiração pausada, a inquietação é premente. Os risos carregados de excitação e expectativa dão lugar ao grito prazeroso justamente quando os carrinhos alçam uma velocidade estrondosa em poucos instantes. E ali, naquele insólito momento, já não há razões, nem sensos de direção. Não há preocupações, somente o desejo de chegar ao fim da linha. Mas todos podemos concordar em um coisa: a vida é muito mais uma montanha russa do que um carrossel. Aliás, se eu tivesse que escolher a forma como sempre viveria minha vida, optaria pela montanha russa.
Mesmo porque vida sem emoção pode ser considerada morte. É preciso que tenhamos em mente a certeza de que vida em abundância é muita vida, portanto emocionante e cheia de curvas fechadas e “loops”.
Ademais, no carrossel há isolamento. Na montanha russa, vai-se acompanhado. E nada melhor do que experimentarmos o outro, diferente e tão igual, afetando-nos e sendo afetado.
De igual modo, diante dessa simples analogia da vida, ocorre a complexidade educacional. Somente mediante afetos recíprocos, a educação em todos os seus níveis permitirá a sinalização de um mundo melhor. Temos consciência que os afetos, assim como a vida, são dialógicos, ou seja, possuem lados opostos e díspares. Tem muita gente que sabe afetar o outro positivamente, mas também existe muitos outros que afetam o outro, consequentemente a vida sem o devido respeito e dignidade.
Que aprendamos em todas as dimensões do cotidiano a vivenciar as múltiplas dinâmicas de nossas montanhas russas afetuosas.


Moisés A. Coppe

QUALQUER SEMELHANÇA É MERA COINCIDÊNCIA





segunda-feira, 15 de setembro de 2008

DOZE CONSELHOS PARA TER UM INFARTO FELIZ


por Dr. Ernesto Artur - CARDIOLOGISTA


1. Cuide de seu trabalho antes de tudo. As necessidades pessoais e familiares são secundárias;


2. Trabalhe aos sábados o dia inteiro e, se puder também aos domingos;


3. Se não puder permanecer no escritório à noite, leve trabalho para casa e trabalhe até tarde;


4. Ao invés de dizer não, diga sempre sim a tudo que lhe solicitarem;


5. Procure fazer parte de todas as comissões, comitês, diretorias,conselhos e aceite todos os convites para conferências, seminários, encontros, reuniões, simpósiosetc.;


6. Não se dê ao luxo de um café da manhã ou uma refeição tranqüila. Pelo contrário, coma o mais rápido possível pra não perder tempo e aproveite o horário das refeições para fechar negócios ou fazer reuniões importantes.


7. Não perca tempo fazendo ginástica, nadando, pescando, jogando bola ou tênis. Afinal, tempo é dinheiro;


8. Nunca tire férias, você não precisa disso. Lembre-se que você é de ferro;


9. Centralize todo o trabalho em você, controle e examine tudo para ver se nada está errado. Delegar é pura bobagem; é tudo com você mesmo;


10. Se sentir que está perdendo o ritmo, o fôlego e pintar aquela dor de estômago, tome logo estimulantes, energéticos e anti-ácidos. Eles vão te deixar tinindo;


11. Se tiver dificuldades em dormir não perca tempo: tome calmantes e sedativos de todos os tipos. Agem rápido e são baratos.


12. E por último, o mais importante: não se permita ter momentos de oração, meditação, audição de uma boa música e reflexão sobre sua vida . Isto é para crédulos e tolos sensíveis.Repita para si: Eu não perco tempo com bobagens.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

MOVIMENTOS EDUCACIONAIS



“Para a liberdade foi que Cristo vos libertou.
Permanecei pois sóbrios e não vos submetais de novo ao jugo da escravidão”.
Gálatas 6:1

Indubitavelmente, os caminhos inerentes ao que chamaremos neste texto de movimentos educacionais precisam ser marcados pela (i)lógica do amor. Não há como conceber tais movimentos sem a perspectiva relacional, fruto de possibilidades libertadoras[1] coligadas a um desvelo “agapático”.[2]
Ao falarmos de movimentos educacionais, desenvolvemos a singela reflexão de que educação que se preze acontece naturalmente na criação, recriação, decisão, dinamização do mundo, domínio da realidade e humanização.[3] Ela não se institui. Ora, toda e qualquer instituição tende a limitar as ações humanas. É inegável a capacidade que a instituição tem em delimitar a vida humana do nascimento à morte. Quem nasce, nasce dentro de um complexo institucional, sobrevive por causa dele, se forma e se informa, entretanto, acaba em algum momento de sua singular trajetória, se sentindo aprisionado. Se almejar a ruptura, sofre. Não é fácil controlar o sofrimento decorrente de uma separação institucional. Rubem Alves, em seu livro: “Dogmatismo e Tolerância”, assim expressa:
Uma instituição é um mecanismo social que programa o comportamento humano de forma especializada, de sorte que ele produz os objetos predeterminados pela instituição. Igrejas, exércitos, escolas, hospitais, manicômios, casamento – são todos instituições. Pode-se, na verdade, ver que todos eles: 1. Programam o comportamento. 2. Forçam o indivíduo a produzir comportamentos e “bens” segundo as receitas monopolizadas pela instituição.[4]

Ora, Alves nos incita à discussão sobre o conceito de liberdade ante à instituição. E bem sabemos que o conceito de liberdade é ambíguo. Mas será que podemos realmente falar de liberdade em nossos movimentos educacionais?
A bem da verdade, ainda não conseguimos nos libertar da educação depositária, denunciada por Paulo Freire.[5] É claro que existem reflexos inusitados dentro dos nossos movimentos educacionais que nos lançam ao princípio da liberdade, mas ainda são reflexos. É preciso que nos lembremos da vocação primeira que nos conduziu à dinâmica dos movimentos educacionais. Se a “água” da atividade presente estiver contaminada, é preciso (re)visitar a fonte incipiente e beber água pura. Tal atitude, embora pueril, é fundamental para descortinarmos as janelas dessa utopia chamada liberdade e retomarmos nossos movimentos com renovada esperança.
Mas se há uma trilha para a liberdade, essa trilha é o amor. Embora, a palavra amor esteja desgastada, assim como muitas das suas manifestações, ainda assim continua a ser um ideal epicentral. E sabemos que nenhuma pessoa é movida por razões da cabeça, senão por razões que tocam a alma e o coração. Ademais, as possíveis “verdades” somente podem se constituir se há o estabelecimento de uma relação amorosa. Nessa linha, Alves expressa que o que move as pessoas não são as razões da ciência e das convicções, mas as razões do coração. Quando a emoção é tocada, as idéias deslizam com facilidade.[6] Isso sem perder a capacidade de criticidade.
Se optarmos em estabelecer boas resoluções em nossa vivência, mediante a partilha de verdades com amor, então poderemos falar de coerência nos movimentos educacionais que passam, necessariamente, por nossa assimilação de mundo e atitude de desvelo em relação às pessoas.
Portanto, cuidar das pessoas na dimensão do amor favorece aquilo que E. Morin chamou de unitas multiplex. Mais especificamente:
Cabe à educação do futuro cuidar para que a idéia de unidade da espécie humana não apague a idéia de diversidade e que a da sua diversidade não apague a da unidade. Há uma unidade humana. Há uma diversidade humana. A unidade não está nos traços biológicos da espécie Homo sapiens.[7]

O desafio que se posta ante ao olhar do educador é o que confere a dinâmica do amor na afirmação das diferenças, visando aquilo que Morin batizou de antropo-ética, ou seja, a relação entre indivíduo singular e espécie humana como todo.[8]
Freire na mesma linha aponta: “Nas relações que o homem estabelece com o mundo há, por isso mesmo, uma pluralidade na própria singularidade. E há também um traço de criticidade”.[9] E assim, o desvelo nos movimentos educacionais, que possui necessariamente uma característica de alteridade, é a possibilidade que os educadores desenvolvem ao harmonizarem-se com os educandos. E essa tarefa não acontece do dia para a noite, tampouco vice–versa, mas na lida diária. Em uma espécie de desvelo pericorético–amoroso.[10] E nesse nível de desvelo inicia-se nossa tarefa.

Moisés Coppe.
[1] Para maiores ampliações do termo, ver: FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
[2] Termo relativo à palavra grega – agape – amor incondicional. Adotamos também a idéia freriana de amor como ato de coragem que não teme o debate.
[3] FREIRE, op. cit, p. 51.
[4] ALVES, Rubem. Dogmatismo e Tolerância. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 40 – 41.
[5] FREIRE, op. cit, p. 104.
[6] ALVES, Rubem. Apontamentos para um pastoral protestante. Cartilha publicada pelo CEDI.
[7] MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à educação do futuro – 5. ed. – São Paulo: Cortez; Brasília – DF: Unesco, 2002, p. 55.
[8] Idem, p. 113.
[9] FREIRE, op. cit, p. 48.
[10] Pericórese é uma terminologia grega para indicar unidade na aletridade. Conceito desenvolvido por João Damasceno no século II da era cristã.

DIA 70 - As mariposas giram em torno das lamparinas acesas

Gosto quando os olhares e os sorrisos oriundos de pessoas diferentes compactuam os sentimentos mais profundos numa doce simbiose. Pode ser q...