terça-feira, 21 de abril de 2009

O CHOQUE DAS DEFINIÇÕES



No artigo: “O Choque das Civilizações”, escrito e editado em uma revista que discute palestras externas intitulada: “Foreign Affair”, Samuel Huntington aponta que os conflitos políticos dar-se-ão de forma ideológica, dicotomizando civilizações ocidental e oriental. Segundo Edward Said (1935-2003), tal apontamento ressuscita a memória da Guerra Fria, logicamente, com nova roupagem. Mas a questão intrínseca na proposição de Huntington é de que há uma cultura e civilização superior à outra. No caso, Huntington evidencia que o ocidente, idealizado pelos EUA precisa ressaltar as diferenças presentes no Islã; apoiar os países que são simpáticos ao ocidente e promover conflitos entre países, que mesmo sendo islamitas, possuem suas diferenças.
Ora, Huntington qualifica sua tese na concepção nós e eles. Tal postura etnocentrista desconsiderava a pluralidade e diversidade presente neste “planeta cada vez mais apertado”. Percebe-se nitidamente, na citação: “As fronteiras do Islã são sangrentas, como também o são suas entranhas”, que Huntington faz questão de esboçar preconceituosamente o perfil do Islã – violento, sangrento, bojudo. E se assim o faz, é porque considera sua própria civilização o oposto, a saber, um exemplo a ser seguido por todas as demais civilizações, principalmente orientais.
Entretanto, Edward Said se opõe a toda a argumentação de Huntington. Segundo Said, o que pode dar direito a esta ou aquela civilização de estabelecer valores, princípios, modos de condutas, cultura, religião ou estilos sociais?
Ora, Said aponta que toda construção histórica é evidenciada por alguém com um objetivo claro. Tais relatos e narrativas estruturam tradições dando desfechos apoteóticos aos heróis e demonizando o inimigo. Ironicamente, Said critica Huntington por entendê-lo poético e emocional. Tal argumentação fica evidente na citação acima descrita.
Said evidencia também que Huntington, com sua tese, não coopera para o encontro entre as civilizações, mas ao contrário, incita e fomenta o conflito. O problema não tange a refletir sobre mônadas culturais, mas perceber que a compreensão de si passa necessariamente pela compreensão do outro. Trata-se, outrossim, de perceber que não existem blocos monolíticos, embora muitos ainda insistam em exaltá-los.
Aliás, Said evidencia que nos EUA, movimentos populares querem a mudança da história, e que a mesma inclua os escravos, criados e pobres imigrantes na oficialidade. E o que dizer do artigo: “Atenas negra”, citado por ele que revela uma Grécia diferente da concebida pelos livros de história e pelo ocidente – formada por negros, semitas e, posteriormente, setentrionais. É preciso ver com outros olhos as historiografias, pois todas as culturas e civilizações tomam parte naquilo que Clifford Geertz chamaria de “colagem”.
Por fim, Edward Said aponta que o posicionamento de Huntington é preconceituoso. Favorece a sua própria nação em detrimento das outras.
Citando Aimé Césaire (1913 – 2008) – poeta e político francês, ideólogo do conceito de negritude – Said assim finaliza seu artigo:

"Mas a obra do homem está apenas começando e resta ao homem conquistar toda a violência entrincheirada nos recessos de sua paixão.
E nenhuma raça possui o monopólio da beleza, da inteligência, da força, e há lugar para todos no encontro da vitória
".

Nosso desafio, portanto, é o de entender as diferenças culturais, aceitar o princípio de liberdade entre todos os povos, visando a harmonização do mundo.

Resumo do artigo de Said
de mesmo título.
Preparado por Moisés Coppe

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