quinta-feira, 21 de novembro de 2013

OS OLHOS TRISTES DO LOBO


Eu os vi...
Olhos tristes quando ainda um filhote
Lutando pra escapar da morte
Ansiando o acaso ou a sorte

Eu o vi...
Não deveria ter viçoso vivido
Mas cresceu forte, ensandecido
Devorando mesmo o não-percebido

Eu o vi...
Acabei deixando-o crescer
Como ser, precisava viver
Nada mais poderia o deter

Todavia...
Furioso, quis minh'alma destruir
Me desfez sem me reconstruir
Os seus olhos tristes eu vi

E assim...
Levei o lobo agora criado
Para ser sacrificado
No silêncio do nada enluarado.

A adaga em minha mão reluzia
Sob a parca luz que se via
Todo o meu corpo tremia

Eu vi nos seus olhos o terror
Estampado em meio a dor
De perder todo brilho e vigor

Era preciso dizer ao lobo: basta!
Sua sanha inquieta me arrasta
Para um profundo onde o fogo se alastra...

Mas ao invés de matá-lo num ato
Resolvi liberá-lo no mato
E deixá-lo viver tempo ingrato

Sim, deixei-o viver sem um rumo
Sem chão, sem teto, sem prumo

Seus olhos tristes, cabisbaixo no mundo...

sábado, 16 de novembro de 2013

LONGE DA PAIXÃO

Nada mais há de você em mim.
O tempo passou, o tempo voou e eu me libertei
Não mais estou à beira do caminho.
As flores até perderam o encanto e as nuvens encobriram o sol, mas eu não me importo.
É bom que assim seja. Num momento a gente se enche de amor,
No outro a gente curte o que dor... o medo se foi...
Paixão é bom porque chega e vai, quase nunca fica.
Eu volto a sorrir, com o corpo isento, sem agonia.
Todavia, tal qual onda do mar, insistirá, voltará... talvez...
Tudo suporto, pois eu nada controlo.
Sigo cantando a melodia triste que dá alegria.
Beleza profunda que anima minh’alma num instante silente.
O fogo abaixou e as cinzas me deram o presente.
Ele é tudo o que tenho, pois o passado passou e o futuro é incerto.
Abraço a noite que cai. A lua minguante será minha companheira.
E no sombrio volume da madrugada, ando sem eira, sem beira,
Na rota da ponte que vai do nada ao vazio, pelo simples fato de ir.
Assento-me à beira do rio. Ele vaga calmamente escondendo os redemoinhos do profundo.
Um graveto flutua. Metáfora de mim sendo levado para qualquer lugar,
Longe da paixão...

Moisés Coppe



quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Paixão insana...


Descontrola-me a paixão!
Essa força, metáfora do fogo.
Tensão e tesão, larva de vulcão.
Dissonante na pauta musical
Que levanta todo o meu astral e me deixa singular.
Mal estar gostoso de sentir.
Trágico luar das noites sem estrelas
Que ilumina, tão somente, pequenos cacos de telhas.
Barro todo informe e macio,
Vermelho, úmido se moldando
No penhasco dos meus mais remotos sonhos.
Salto no vago precipício, sem chão para pousar, sem asas pra voar.
O corpo em meio aos ventos debate o insano intento da fé pra se jogar,
Sem aparas pra agarrar.
É o doce amargo na boca.
Longe dos abraços e beijos
Arrefeço o poder dos desejos...
E mergulho no fundo profundo
Sentindo-me qual moribundo
Que em meio ao silêncio gritante
Enfrenta o temor fulgurante
Perdendo o sentido do mundo.

DIA 70 - As mariposas giram em torno das lamparinas acesas

Gosto quando os olhares e os sorrisos oriundos de pessoas diferentes compactuam os sentimentos mais profundos numa doce simbiose. Pode ser q...