Uma das características do Rock, pelo menos em sua concepção musical
incipiente, tem a ver com a manifestação contra a cultura ou contracultura.
Nessa perspectiva insere-se a composição musical intitulada “Faroeste Caboclo”
– 1990, de Renato Russo e Dado Dolabela.
A canção narra, de forma ficcional, a trajetória de João de Santo
Cristo, uma personagem que tendo nascido em condições econômicas adversas, teve
que se virar na vida de acordo com os marcos categoriais que ele aprendeu ou
apreendeu no decorrer de sua possível existência.
A canção aponta os altos e baixos experimentados, vivenciados e
escolhidos pelo Santo Cristo em sua vivência na cidade de Brasília – Distrito
Federal.
Basicamente, como afirmam os compositores, Santo Cristo se perdeu quando
presenciou o assassinato do pai, efetivado por um policial. Depois de diversas
aventuras em sua cidade natal, Santo Cristo resolve ir para Brasília com a
finalidade de experimentar nova vida. Ao chegar à cidade, vivencia a
experiência de aprendiz de carpinteiro, passando posteriormente a se envolver
no tráfico de drogas e na “bandidagem”.
No enredo, em meio aos dramas e contradições de sua trajetória, ele se
apaixona pela “Maria Rita, a menina linda a quem ele jura o seu amor”. O
desenrolar da narrativa, para ser bem lacônico, tem a ver com os encontros e
desencontros desse amor e a morte de Santo Cristo e Maria Rita. Ao final, a
canção aponta o surgimento de mitos sobre quem foi o tal de Santo Cristo. Isso
fica evidente na seguinte frase: “Ele queria era falar com o presidente pra
ajudar toda essa gente que só faz sofrer”. Como se percebe, não era esse o
propósito inicial, mas foi o que ficou para a interpretação mítica das gentes,
em geral.
Logicamente, a música apresenta uma série de possibilidades para
hermenêuticas em diversos campos das ciências sociais e humanas.
Entretanto, nossa abordagem visa analisar dois aspectos centrais,
ligados ao tema da psicologia. O primeiro refere-se à perspectiva da psicologia
social e de como o meio social, evidenciado principalmente pela convivência
entre pessoas, pode influenciar o subjetivo de determinada pessoa. O segundo
refere-se à ampla discussão que envolve a perspectiva do desenvolvimento
humano, especialmente no que se refere a categorias inatas ou adquiridas.
Uma observação se torna necessária nessa nossa abordagem, e ela se
refere a impossibilidade de aprofundarmos as duas perspectivas em relação à
música. Portanto, nossa abordagem será, tão somente, introdutória, merecendo
uma dialogação futura maior.
1. Santo Cristo e a psicologia social;
A psicologia social caracteriza-se, basicamente, como um ramo da
psicologia moderna que estuda a interdependência, interação e a influência
entre as pessoas. Isso denota um processo onde pessoa alguma pode viver ou
mesmo angariar sua autonomia sem a participação efetiva de seus semelhantes,
dentro de determinado contexto cultura e social.
Esse sucinto apontamento indica que a vida das pessoas e seus possíveis
desenvolvimentos em âmbito subjetivo e social decorrem do processo de
interação. Nessa perspectiva, o personagem João de Santo Cristo é ao mesmo
tempo influenciado pelo meio e agente de mudanças dentro do seu nicho de
mundivivência.
2. Santo Cristo e seu desenvolvimento humano;
Aliada a constatação anterior, a dinâmica do desenvolvimento
biopsicossocial, inerente a todo ser humano, consiste em conhecimentos inatos,
que fazem parte da própria constituição física de cada ser humano, bem como de
conhecimentos adquiridos nas múltiplas relações com os agrupamentos humanos.
Assim, a música expressa as características de João, mais precisamente
aquelas que lhe são inatas, próprias da sua natureza, como por exemplo: sua
coragem e ousadia. Mas também suas
características adquiridas, por causa da vivência com outras pessoas e os
respectivos acontecimentos que envolveram sua vida.
Considerações Finais
Com base na música e nas nossas observações singulares que aqui fizemos,
enfatizamos, finalmente, que o desenvolvimento biopsicossocial de João se dá
mediante a conjunção de diversos fatores, internos e externos, assim como
ocorre na vida real, na vida de cada um de nós.